domingo, 4 de janeiro de 2009

Fim de Ano em Paris


(Postal antigo de Paris - Imagem da Net)


Finais do mês de Dezembro,
dum ano qualquer já distante.
Subindo os imponentes Pirinéus,
escandalosamente brancos
do nevão intenso que os cobria,
ainda hoje, me lembro
da minha alma confiante
admirando os vastos e claros céus
que de azuis se reflectiam nos flancos
das encostas, ao frio que fazia.

Nos cambiantes de gloriosa luz,
sem a tua amada presença,
teu olhar risonho ressurgia,
com o gelo que nele reluz
como jamais poderei esquecer,
no beijo que, numa crença,
a boca sedenta calorosamente pedia
para nesse Inverno me aquecer.

Na brutalidade gelada, em Paz de La Casa,
em Andorra, só, mas serena,
nessa noite, cansada adormecia.
Estávamos em países distantes,
mas o sonho tinha asa
e, em teu peito, amena,
minha saudade dormia
no doce conforto dos amantes.

Estrada de Brive...
Finalmente Paris...
Outra noite acontecia.
Passagem de ano e, que encanto,
que deslumbramento tive:
o luxo, a côr, as sedas, as peles, o verniz,
em cascatas luminosas se viam
pelas ruas, em qualquer canto.

E, no entanto, eu, sozinha,
vendo a multidão divertida,
dentro do carro comemorei
as badaladas da meia-noite em festa.
Imaginei-me, a teu lado, quentinha,
por teus braços aquecida
e, nesse deleite me abandonei.
E, esta... é a lembrança que, de Paris, me resta.




(Para melhor ouvir este video, baixe,
ou desligue o som da Rádio Nostalgia, no final da página)

4 comentários:

Adão disse...

Como, afinal, nos sentimos sós!Passamos a meia noite dentro de um carro, imaginando que todos os outros dançam e se beijam, mas, a verdade é que estão tão sós como nós, dentro de um carro, em Paris, no momento da passagem de um ano qualquer.Todas as nossas palavras o que realmente dizem é - "está aí alguém!?" - o terrível "anybody there!?" dos filmes de suspense.E quando nos respondem é essa pergunta que nos fazem: "estás aí?"
Talvez porque ninguém é daqui.
-"Quem sou eu?"
-"Ora essa, quem havia de ser!? Eu sou Eu!"
Ficamos na mesma.Quem não sabe quem eu sou responde: sou eu.
E, então, imaginamos tudo à 12ª badalada.
E o fogo de artifício explode sobre o Sacré Coeur, enquanto um acordeão chora connosco.

OUTONO disse...

Por aqui respira-se poesia...

Reunido o "fórum" da minha eleição, foi decidido atribuir-te o prémio DARDOS. Parabéns!

Está tudo em http://pretexto-classico.blogspot.com

Beijo.

Isabel Branco disse...

Adão

Au Pigalle...depois de ler pedaços de "Quatre lettres de mon moulin; la priere aux etoiles" de Marcel Pagnol e escutando o choro do acordeão que na esquina gemia de frio

....parce que dans notre passé, il n´ya jamais notre mort; dans notre avenir, elle y est toujourrs. Je t´aime.

Isabel Branco disse...

Outono

Sinto-me muito honrada em receber o prémio que me atribuis e, tal como dizes no teu texto, para quem escreve, o reconhecimento, ainda que seja de um só leitor, justifica a partilha e a vontade de continuar dando à luz o que da mente brota.
Um imenso obrigada e um beijinho.