terça-feira, 26 de julho de 2011

FUI MAR, SOU RIO...


Fotos minhas


Fui menina selva,
menina bicho do mato
luar, praia, mar, imbondeiro,
tronco, raiz, maçaroca...

Fui sol, fui calor...

Depois esplendor na relva,
manga doce ao olfato,
fui a tropicalidade do mamoeiro,
a rubra acácia, a mandioca...

Sou mulher cidade,
Mulher maresia, mulher poema
neste Tejo das canoas à deriva
e das gaivotas em patética sinfonia...

Sou grito, sou dor...

Em cada viela, bebo do fado a saudade,
sou alecrim, hortelã, alfazema,
alma solitária que se esquiva
flor de lis em permanente agonia...

Fui menina do mar,
sou mulher do rio...
Fui sonho a navegar
sou a hora, o desafio!

Fui mar, sou rio...


Isabel Branco


segunda-feira, 25 de julho de 2011

Que sei eu...


(Imagem da Net)


Que sei eu da razão se a razão
me corrói e me despedaça o coração...

Eu, ou esse cadáver de mim,
com que me cruzo a cada esconso dia
temos histórias, temos mistérios escondidos
na velha arca dos nossos confins...
E tudo o que devíamos ter dito,
tudo o que pensámos e nunca dissemos,
tudo o que sonhámos e não vivemos...
tudo guardamos, tudo armazenamos,
no abarrotar de nós próprios e dos nossos lixos,
julgando éticos um outro amanhã
reciclado, diferente, transformado!

Que sei eu da verdade, se a verdade
me molesta e me cerca de saudade...

Eu, ou esse fantasma de mim,
de que me escondo amedrontada
temos trapos e vestes brancas de magia
impregnadas de odores e noites frias,
bancos de luz, e laivos de poesia,
que deitamos em lençóis de linho vazios ...
E tudo o que tocámos e não quisemos,
tudo o que tivemos e não merecemos
se vira contra nós em vigílias insones,
no macabro desfilar dos nossos íntimos
e mais recônditos horrores !

Que sei eu do amor se o amor
me magoa e me corrói de dor...

Eu, ou esse outro lado de mim,
com que me diferenço e distingo
temos catedrais de sonho e de cor,
festins carnais e madrugadas de esplendor...
E tudo o que acalentámos e nos deixou,
tudo o que amámos e nos amou,
tudo o que desejámos ou esquecemos,
tudo nos une: pele, sangue, ato, ritual, mito,
(barcos nas gavetas da memória,
pétalas duma roseira que não murchou),
no reescrever das páginas dum amar sem fim!

Que sei eu de mim, se cansada de mim
me declino no sofá do meu camarim...

Eu, ou essa sombra de mim,
com que me espelho e me reflito
temos a feira das nossas vaidades,
as pérolas, o âmbar das cumplicidades...
E tudo o que vestimos nos despe,
tudo o que parecemos não somos
tudo o que pensamos e alcançamos,
tudo conspira na essência do eu: asa,
poder, cérebro, graça e emoção
na maquilhagem perfeita da intuição
na infinita sede do quase...quase divino!

Que sei eu de nós, se afinal nós
herdámos a genética dos avós...

Eu...e essa alma gémea de mim!!!


Isabel Branco


quinta-feira, 21 de julho de 2011

terça-feira, 19 de julho de 2011

Azul Poente


Foto de Isabel Branco


Aos azuláceos oiros do poente
o silêncio adormece o dia
em serena e mansa hora...

O mar sussurra docemente,
sente-se o Absoluto, a Poesia -
fresta, num olhar que se demora!


Isabel Branco

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Duas Gaivotas


Foto de Isabel Branco


Se uma gaivota vier
e a outra se juntar
esteja onde estiver
traz-lhe um beijo de mar...

Partem logo de seguida
em alegre algazarra:
Dois lenços em despedida,
brancas asas em céu de farra!

São duas lágrimas de sal
voando em liberdade
num bailado original...

e escrevem com originalidade,
ao poente pelo areal,
bela a palavra SAUDADE!

Isabel Branco


domingo, 17 de julho de 2011

Metade e Não Há Vagas - Ferreira Gullar



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DIZER POESIA

42º Programa: FERREIRA GULLAR - Metade; Não há vagas; (e o Meu - Espero por ti)

http://tv.rtp.pt/multimedia/progAudio.php?prog=3273

Transmitido na RDP Internacional a 15 de Julho de 2011.

MAR


Foto de Isabel Branco

Páginas de espuma
escritas na areia branca
com penas de sol
e aparos de lua...
Um tanto de belo,
um tanto de dor
nas ondas que num vai e vem
lamentos naufragam
e em, murmúrios de amor,
capítulos encerram...
Sem palavras que o resuma
cada letra é um adágio
duma só sílaba nua,
neste livro a que chamei MAR.
Perdoe-me Deus o plágio
se outro, ou melhor nome
não consegui encontrar.
Tão pouco, sozinha, o escrevi.
Tantas vezes o li e reli
mistério, imensidão, enfim...
Ora em brumas envolta,
ora em azul sonho, me confundi
numa estranha forma de amar,
num ávido delírio temporal,
meu amor revolta
MAR...mar meu... sem ter fim...
sem ter volta!


Isabel Branco

terça-feira, 12 de julho de 2011

Sonhei contigo...






Meu amor, minha vida,
minha estrela inatingível
inegualável no universo,
meu mágico violino
de acordes sublimes,
sonhei contigo...

Sonhei que, juntos no firmamento,
era nossa a melodia
e a nossa luz um novo brilho...

Nossa cama tinha um manto
rendilhado a ouro, prata e outras pedrarias
que nos cobria a nudez...
Era o manto da noite,
manto de lua e oceano
e tantas, tantas, outras estrelas...

Num afago de mar,
a cálida brisa brincava despenteando
anéis loiros dos nossos cabelos,
a branca espuma das ondas
enrolava-se na areia fina
num lânguido sussurro enamorado...

Nas mãos que nos dávamos
no húmido e quente beijo
que nossas bocas unia
éramos estrelas cadentes
ao som de quatro exímias cordas,
(noite, lua, brisa e mar),
em mirabolante serenata
dum enlouquecido Stradivarius
num genial concerto de Paganini...


Isabel Branco

segunda-feira, 11 de julho de 2011

No Infinito do Ser




Do infinito do querer
quis ter e parecer.
Porém, bastou-me o sentir
e o deixar, simplesmente, fluir
momentos de alegria
entre a realidade e a fantasia,
instantes intensos ainda que fugazes
e sonhos, sonhos loucos e audazes...
No verso e no reverso
tanto me foi adverso,
nos pensamentos e sensações
no à flor da pele das emoções.
No balanço das contas final,
no mais profundo do espirito e do sensual
onde a alma e o corpo comemoram,
e no íntimo se demoram,
nesse infinito do ser
quis saber e soube viver!


Isabel Branco

Minha 5ª Sinfonia; Esta Verdade Lisboa - Pedro Bandeira Freire



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DIZER POESIA

41º Programa: PEDRO BANDEIRA FREIRE - Minha 5ª Sinfonia; Esta Verdade Lisboa; (e o Meu - Gaivota Morta...)

http://tv.rtp.pt/multimedia/progAudio.php?prog=3273

Transmitido na RDP Internacional a 08 de Julho de 2011.

domingo, 10 de julho de 2011

JÁ...


(Imagem da Net)



Já tive medos que desconhecia,
já andei por caminhos que não queria,
já ganhei coragem e não sabia...

Já menti e não me arrependi,
já amei, chorei e sofri,
já fui amada e não esqueci...

Já andei descalça e tão feliz,
já trepei às árvores quando petiz,
já quebrei o queixo e o nariz...

Já deixei a minha terra,
já ultrapassei a fome e a guerra,
já a tristeza no meu peito se encerra...

Já resoluta parti e determinada voltei,
já por meus moinhos lutei,
já insisti, perdi e perdoei...

Já fui princesa e namorada,
já gritei quando calada,
já tive tudo e não tenho nada...

Já disse adeus um dia,
já sonhei a cores a utopia,
já magicamente me invadi de poesia...

Já seduzi caprichosa,
já errei de tão teimosa,
já me vesti e despi ousada e vaidosa...

Já fui praia, campo, cidade,
já menina e moça vi desfilar a mocidade,
já morri de dor e saudade...

Já sufoquei rancor dentro de mim,
já escolhi um amor sem fim,
já plantei uma flor e fiz um jardim...

Já escrevi livros e uma ou outra canção,
já li e reli páginas e páginas de emoção,
já mulher conquistei o mundo e mãe abraçei o Verão...

Já me tenho perguntado, que mais me falta fazer?
Já cheguei ao antes quebrar que torcer?
Já só me faltará morrer?

Resta-me minha estrada continuar...
Resta-me viver e serena acreditar...
Restas-me tu, resta-me o (a)mar!


Isabel Branco

Foi-se a saudade embora...





Foi-se a saudade embora
na dor que para trás deixou.
Simplesmente, nunca amou
e saudade não é agora...

Na demorada solidão
onde o silêncio impera
escuta melhor o coração
que a angústia supera.

Se até a tímida flor
nasce das pedras da calçada
também tu, meu amor,

trazes na boca calada
versos primos com o sabor
duma vida desperdiçada!


Isabel Branco

sábado, 9 de julho de 2011

Águas





Partindo...lá vamos a navegar
nas velas soltas da imaginação...
Águas ... sejam rio, sejam mar,
do olhar nossa contemplação!

Doces águas por onde me levais?
Amarras a que me prendeis?
Águas salgadas que chorais
ondas que de meus olhos vereis...

Águas..., nuvens, presságios,
viagens, emoções que bebo
nas mágoas dos meus naufrágios.

Cachoeiras que, em mim, percebo
desenganos, fontes, apanágios,
brancas águas que hoje escrevo...


Isabel Branco

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Aguarela




Foram orquídeas, foram rosas...
Pétalas de tantas flores
que num braçado de cores
me ofertastes tão formosas.

Delas perservo o cheiro
e na memória o encanto,
minha alegria, meu pranto,
amor que foste o primeiro!

Pintei-as numa aguarela
com breves salpicos de mar
e um sol d’oiro a brilhar.

Emoldurei-a como janela
dessa lembrança singela
da conjugação do verbo amar...




Isabel Branco

Que ridículo...




Que ridículo
dar ao texto a volta,
comer o bolo,
ir directa ao assunto,
sair da frente,
fazer uma plástica...

E, de repente,
atirar para o chão
frases feitas
de pastilha elástica
ou pensamentos empacotados
em caixinhas de alumínio.

Aos sinais de fumo
num ula-ula
gesticulado e frenético
que ridículo
baixar a guarda,
beber a cerveja
sorvendo-lhe apenas a espuma
e, ao saborear da cereja
engolir o caroço
cuspindo a vermelhidão
do fruto proibido.

Que pouco ético,
que ridículo
envergar a farda,
dançar o tango
sem brio, sem aprumo...

Que ridículo
o descer do corrimão,
patamar a patamar
e sorridente ultrapassar
a lâmina aguçada
ao final da linha...

Uhmm...que arrepio
e que simultâneo fascínio!

Que ridículo
patinar no gelo
descalça até ao osso
e, delicadamente,
em vénia: a pirueta,
a reviravolta...
as palmas, a exaltação,
o obstáculo vencido...

Que ridículo
o gatafunhar das entrelinhas,
o virar da página
da história por escrever
duma gigantesca abóbora
em carruagem transformada,
duma formosa Cinderela
em Gata Borralheira transformada.

Que ridículo...
O espatifar da vítrea pipeta
em constante e aflitivo apelo;
o murmurar do silêncio,
a ulcerosa ferida
a cada espinho duma rosa amarela...

Que ridículo,
o ridículo das cartas de amor
não escritas
no frenesim dos minutos marcados
a cada passagem de lua,
a cada promessa de mar;

Que ridículo,
ao piar das corujas,
o acordar e adormecer,
insolentemente,
dos sonhos inacabados...


Isabel Branco

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Existe um rio





Existe um rio azul
serpenteando a sorte.
Nasce sinuoso a norte
e calmo desagua a sul.

Tece-me de enganos
a frescura das margens
e na fotografia das imagens
é a sépia que ficamos...

Corre, corre desvairado
esse rio até ao mar
em azul sal transformado!

Ao poente, a naufragar,
morre um sonho embalado
nas ondas do meu palpitar!




Isabel Branco

domingo, 3 de julho de 2011

Sanguinidade


Cupido (Eros) e Psiquê - António Canova

Corre-me velho nas veias
um liquido cansado, pastoso,
vermelho, igual na euforia
e na definida solução...
Sangue, linfa e rótulo
que à vida me vincula
e num percurso silencioso
me envelhece e disforma.
Perante a demonstração
no ADN da sanguinia alquimia,
em enigma sinuoso,
nos perpetua e identifica.
Dos genes apóstulo
a objectiva verdade formula:
em cruel e triste forma
em absoluta consanguinidade
nos incesta as ideias,
o corpo, a alma e, em algoz agonia,
nos aparta em negação
desse amor que nos petrifica,
infinito, sem limite, sem idade...


Isabel Branco