sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Inconstância


(Imagem da Webshots)


Esgotei, momentaneamente,
a capacidade de escrever,
de querer ou de imaginar...
Aguça-se, nostálgica, esta dor
que, assídua, me atormenta
na permanente ausência, no desamor,
duma voz dolente
que me não leva a parte nenhuma
senão, às águas estagnadas
que o teu silêncio, meu amor,
aumenta, invariavelmente,
em rios de pútrida solidão,
em indigna espuma.

O meu cérebro cansado
identifica-se a uma sala vazia, não iluminada
apenas, porque um fusível desligado
a priva do privilégio da luz...
A mão preguiçosa
recusa-se a percorrer o caminho
que entre a tinta e o papel está traçado.

Não estou nem triste, nem alegre...
Perdi, no entanto, a emotividade...
Falta-me o espaço, a côr,
o momento, a delícia...
Sufoco na rotina da cidade.
Definho desorientada
entre o barulho da multidão...
Entre os pólos da ambiguidade,
me movimento e circulo agoniada...
Só estou bem onde não estou...
Sonolenta, inconstante,
já nem sei quem sou...

Distanciada da infantil tradição
é este, o efeito que, em mim, produz
esta época natalícia
de suposta união,
plena de algumas boas vontades,
e tantas hipócritas atitudes...

Apetece-me voar
para antípodas distâncias
ou, simplesmente, não fazer nada
e deixar-me ao sol a "lagartear"
numa praia, numa esplanada
observando o mar...ai... o mar...

Congestionada pelos ventos agrestes,
enregelada pelos agressivos frios,
refugio-me numa patética hibernação,
numa espécie de apatia tresloucada.
Nem a decoração dos ciprestes
alusiva e estrelícia
me distrai ou anima.

Numa teimosia inconformada
revejo outra vida refractada
e a saudade, agora instalada,
clama pelos primeiros desafios
e entardece magoada.

Ah! Longínquas beatitudes
que ainda me fazem sonhar,
escondidas noutra rima
de promessas e ilusão!...
Espelhadas noutras latitudes
condicionam-se às rugas sulcadas
nos rostos argilosos
das inúmeras solicitudes
que nos retalham o coração.

Não me apetece pensar,
nem tão pouco sentir!
Apetece-me apenas, ficar
junto ao cais, junto ao mar
e, de tudo o mais, me abstrair.


8 comentários:

Anónimo disse...

Olá, Isabel
Jamais vi falta de inspiração, como tu mesma dizes, ser tão inspirada. Tens mesmo a verve das pessoas iluminadas.
Um abraço
Paulo

Sergio Montis disse...

Um Natal feliz e tranqüilo
Beijos
Free

Adão disse...

Acontece-me também.
Gostaria de saber por que não há poesia alegre. Talvez porque a alegria é do corpo, não da alma.
A alma é triste, desde que deixou a casa paterna...
Toda a nostalgia é dessa origem.
Beijo

Isabel Branco disse...

Paulo

Apenas transfiro o meu sentir da mente à mão e desta ao papel.
Feliz Natal e um óptimo Anos Novo.

Um beijinho,

Isabel

Isabel Branco disse...

Free

Carissimo, até Itália o meu abraço e auguri di Buon Natale e Felice Anno Nuovo portino di pace e serenità.

Bacino

Isabel Branco

Isabel Branco disse...

Adão

Nem todos os poemas são tristes... Mas a poesia não mente...
É da alma, como dizes,
apenas dói, apenas sente.

Um beijinho,

Isabel

pollicino disse...

Ciao sono venuto a vesiarti per gli auguri di Natale per te ed i tui cari,un saluto dall'Italia,Ciaooooo Eugenio
Olá, tenho vindo a visitar-nos para o Natal para você e seus entes queridos. Cumprimentos de Itália, Eugenio.

Isabel Branco disse...

Eugénio (Pollicino)

Gracie. De Portugal para Itália um elo pangeico e Feliz Natal.
Um beijinho.