quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Sei-nos


Sei da apetecível loucura,
da incontornável languidez
que me devora e descura,
me inebria e colore a palidez.


Sei dos teus olhos a chama
reacesa no meu pensamento,
na convicção de quem ama
nesta saudade que enfrento.


Sei, da pele, as sensações,
as narcisistas tempestades,
o espraiar das emoções
e o trovejar das vontades.


Sei das noites de insónias,
das lágrimas e desencontro,
do abandono das cerimónias,
das nuvens onde te encontro.


Sei da saliva engolida
nas alvas páginas que escrevo,
da desordem consentida
do que, ao lembrar-te, me atrevo.


Sei-te de cor e salteado
entre a luz e a escuridão…
a cada beijo molhado
que me roubas do coração.


Sei-te inteiro, uno, exato
a cada músculo e pormenor.
Sei-nos derradeiros no ato,
plenos de tinta e esplendor!


Sei-nos ostras abraçadas
pérolas dum vasto oceano,
duas faluas ancoradas
ao peito do nosso desengano.


Sei-nos lírios adormecidos,
sombras, retratos de ausência…
Dois corpos reprimidos
na hesitação e na demência.


Sei-nos chuva de infinito
na lucidez do momento,
na invernia do conflito,
mar do nosso contentamento.


Sei-nos, alma e sangue desnudos,
cúmplices na poesia do pecado,
dois febris gritos mudos
do nosso estar desassossegado!




Isabel Branco


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