segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Apagão




Faltou a luz...Apagão...
Acendo uma vela!
Que fazer?
Senão ver,
observar
o bruxelear,
a chama que vem dela!
É geral...e parece que para durar.
Toda a rua, todo o bairro
mergulha em escuridão.
Não há computador,
nem televisão...
Nada a fazer,
senão esperar!
Esperar!...
Ah! Mas esta espera desespera!
Nada a fazer ! Nada ver
senão a luz frouxa duma vela!
Então...solta-se  uma ideia...
e outra...e mais outra...
Afinal, há que fazer...
deixo a tinta correr
da caneta que tenho na mão
e o poema começa a acontecer!
Tempos dificeis, conturbados,
estes em que a imaginação
deixou de se sentir...de fluir...
à luz tímida duma vela.
Está frio...o corpo esfria...gela...
Nenhum dos meus ainda regressou
e sozinha aqui estou...
sem aquecedor,
sem fogão,
sem afazer ou distração.
Encosto o rosto à vidraça
e da minha janela
vejo vultos de gente que passa...
Sombras em desenfreada correria
na volta ao lar, ao final doutro dia.
Ao longe, na auto-estrada,
amontoam-se em procissão
centenas de pequenas luzes
e tantos...tantos carros na confusão.
Mais além...uma pequena povoação...
E luz...intensa e amarela
iluminando, colorindo
uma, outra casa, ou quem vive nela.
Por aqui...continua o apagão!
Lá fora, na rua...um ou outro clarão!
Escrevo....e, à cautela,
vou em busca doutra vela
que esta, já quase extinta,
mal me deixa ver a tinta
e a azulácea determinação
que cabe dentro dela.
E a luz que não volta!
E o tempo que passa!
 E a gente, num cobertor envolta,
pensa na vida e na desgraça...
A falta que faz a eletricidade!
Como tudo gira e se move,
como vibra e pulsa com ela,
qualquer aldeia, vila ou cidade!
As horas...tic-tac...tac-tic...vão passando.
E, de repente, rasgando o silêncio,
 um toque exasperado
do telemóvel que me reclama.
É a minha filha, a mais nova que me chama,
que me pede auxílio
perto do estacionado elevador,
sentindo-se por fantasmas perseguida
no bréu assustador.
Abro a porta e vou até ao corredor
e, à luz mortiça duma vela,
é quente e doce o nosso abraço acolhedor
nesta noite fria, escura e singela!
Lá fora... continua o apagão!
Porém, aqui, agora...
vejo e basta-me
a luz nos olhos dela.

Isabel Branco

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