58º Programa - Alda do Espírito Santo - DIZER POESIA by Isabel Branco2
Alda do Espírito Santo, também conhecida por Alda Graça, nasceu em São Tomé a 30 de Abril de 1926. Foi educada em Portugal, regressando depois à sua Ilha, como professora, exercendo posteriormente alguns cargos governamentais nas áreas da Educação, da Informação e da Cultura e ainda como deputada e Presidente da Assembleia Nacional.
Presidente da União Nacional dos Escritores e Artistas de São Tomé e Príncipe, cargo que acumulou com a Presidência do Fórum da Mulher de S. Tomé e Príncipe é autora da letra do hino nacional de S. Tomé e Príncipe e de uma poesia, que expressa o protesto e a luta, intimamente associados às aspirações do seu povo e à liberdade. Os seus poemas aparecem nas mais variadas antologias lusófonas, bem como em jornais e revistas de São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique.
Depois de publicar "O Jogral das Ilhas, em 1976, publicou em 1978 "É nosso o solo sagrada da terra", um dos seus trabalhos mais importantes, conjuntamente com Trindade outro livro que publicaria mais tarde.
Faleceu a 10 de Março de 2010, aos 83 anos, em Luanda para onde foi evacuada para a amputação duma perna devido a diabetes.
EM TORNO DA MINHA BAÍA
Aqui, na areia,
Sentada à beira do cais da minha baía
do cais simbólico, dos fardos,
das malas e da chuva
caindo em torrente
sobre o cais desmantelado,
caindo em ruínas
eu queria ver à volta de mim,
nesta hora morna do entardecer
no mormaço tropical
desta terra de África
à beira do cais a desfazer-se em ruínas,
abrigados por um toldo movediço
uma legião de cabecinhas pequenas,
à roda de mim,
num voo magistral em torno do mundo
desenhando na areia
a senda de todos os destinos
pintando na grande tela da vida
uma história bela
para os homens de todas as terras
ciciando em coro, canções melodiosas
numa toada universal
num cortejo gigante de humana poesia
na mais bela de todas as lições:
HUMANIDADE
Alda do Espírito Santo
ILHA NUA
Coqueiros e palmares da Terra Natal
Mar azul das ilhas perdidas na conjuntura dos séculos
Vegetação densa no horizonte imenso dos nossos sonhos.
Verdura, oceano, calor tropical
Gritando a sede imensa do salgado mar
No deserto paradoxal das praias humanas
Sedentas de espaço e de vida
Nos cantos amargos do ossobô (1)
Anunciando o cair das chuvas
Varrendo de rijo a terra calcinada
Saturada do calor ardente
Mas faminta da irradiação humana
Ilhas paradoxais do Sul do Sará
Os desertos humanos clamam
Na floresta virgem
Dos teus destinos sem planuras...
Alda do Espírito Santo
1 - 0ssobô: ave de belas cores, cujo canto, segundo a tradição, anuncia chuva. Tem ainda a força mítica que o associa a regiões paradisíacas.
NÃO SOU DAQUI…
Não sou daqui...
Vim do Longe,
do Ontem
que Amanhã há-de provir.
Esmoreço, por aqui...
No meu hábito de monge
a ninguém, a nada
me identifico.
Areia doutro mar,
embruteço, petrifico
no tempo sem idade,
incapaz de mudar...
Bicho doutro mato,
sol doutra selva,
em lúcida identidade
vagueio plena do acto...
Inócua, desenraizada,
humana me ramifico
e me entrelaço na cidade
pelas lianas do ali...
Ato e desato
o presente sem vacilar!
Não!...
Não sou daqui...
E, fico...
Fico
na louca vontade de partir,
cheirando além,
a rosas, a relva,
ao lírio branco
do recomeçar...
Isabel Branco
DIZER POESIA
58º Programa: Alda do Espírito Santo - Em Torno da Minha Baía; Ilha Nua (e o Meu - Não Sou Daqui...)
http://tv.rtp.pt/multimedia/progAudio.php?prog=3273
Transmitido na RDP Internacional a 04 de novembro de 2011.
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