sábado, 22 de junho de 2013

À Memória do Meu Pai



Vi-te o rosto, óh morte,
na pálida face do pai que levaste,
no estar ceráceo
do seu corpo desistente,
no odor que exalas entre círios e flores...
Vi-te a foice num esgar,
na roxa frontalidade que me ofertaste,
no gélido silêncio
que me sobra e desconforta
nas vestes das tuas negras cores.
Vi-te o semblante, óh morte,
na rígida mortalha do pai que me roubaste,
nas cinzas que a terra acolhe e o vento espalha,
no manear da tua grande barca, óh barqueira,
na crueza da tua vilania,
no fim, no eterno descansar...
E... eis-me órfã... óh ceifeira,
na indefinível arca do tempo,
na irremediável fome da tua ira
da vida amada daquele
que, de mim, vieste ceifar.
Resta-me, óh morte, perdoar-te
numa infinita saudade,

 na sua única e insubstituível memória...


Isabel Branco


Sem comentários: