segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Adeus Ano Maldito




Adeus ano ruim que me roubaste a vida do meu pai,

do meu tio e d´outras vidas também amadas.


Adeus ano de tragédias e desgraças, 


das troikas impróprias e malditas,


dos ivas aumentados,


das faturas exigidas,


dos ordenados e subsídios roubados


e dos afazeres triplicados.


Das famílias destroçadas e das casas perdidas...


Dos sem abrigo pelos bancos dos jardins


com as estrelas por teto e por manto,


em abraços de frio e lençóis de chuva.


Adeus ano intenso de realinhamento dos planetas...


Da renúncia dum Papa, do conclave


e do fumo branco na eleição 


dum Sumo Pontífice do fim do mundo.


Dos milhares de desempregados e suas facetas,


das crianças esfomeadas a quem, além do pão,


roubam o direito à saúde e à educação.


Adeus ano azarento de percas, acidentes,


crimes, suicídios, greves e manifestações...


Dos vigaristas e oportunistas,


dos abusos e extorsões


tão a jeito e convenientes... 


Adeus ano aziago de doenças,


de estranhas convulsões


e inquietantes operações...


Adeus ano vermelho dos fogaréus 


devastando o país em chamas


ceifando as vidas dos que lhes dão luta. 


Adeus ano sangrento dos ajustes de contas,


dos atentados, das perseguições,


da tristeza, da mágoa e da revolta,


das páginas viradas em tempos de crise


para destinos longínquos em emigração


levando saudade e dizendo adeus 


à miséria, à vergonha, à desgraça,


à merda que em este país se transformou...


Adeus capas negras que o mar leva


em estudantis toadas de aflição...


Adeus ano de dor e de lágrimas...


Adeus ano maldito...morre agora tu também


e deixa que a esperança nos renasça


na promessa doutro ano que se aproxima!




Isabel Branco


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