domingo, 25 de agosto de 2013

Embalo a Luz da Cidade





Embalo a luz ambígua da cidade
no cheiro longínquo da maré,
na tristeza dos rostos descobertos
alheados que nela se passeiam,
no fricote, no zumzum, no banzé,
das buzinas enraivecidas...
Capto-a no cais da saudade
das almas que chegam...
Sinto-a nos corpos deambulantes
que se agitam e partem!
Prende-se a mim...rios de pranto, livros abertos
cartas, recados de amor, por escrever,
nas garridas telas que imagino,
que armazeno e não pinto.

Embalo a luz mortiça da cidade
lusco-fusco num agora presente
num estar doído... ausente,
num ser sem ser...ainda por conhecer...
Abraço lugares que me chateiam
pela teimosia, num finca-pé...
Entre camas de corpos delirantes
fogem pela janela os sonhos libertos,
voam pássaros ao adormecer...
Não principio, não acabo, não origino
apenas continuo e continuando minto
como o sol que volta todas as manhãs
na sombra das paredes que me cercam!


Isabel Branco


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