sábado, 6 de outubro de 2012

Pássaro Anjo




























Distante? Distraído?
Que te preocupa?
Que te motiva?
Que te impele, ou que te revolta?
Vives...pássaro pousado
na copa verde duma árvore frondosa
ou no alto dum campanário...
Partilhas silencioso o catavento
sem cardeais, sem sul, sem norte,
abstrato de ti, de mim, de nós,
de qualquer rumo, ou de qualquer sorte...
Vives na sombra do vento,
alheio ao mistério, indefeso,
bailando sem ida, sem volta
preso ao feitiço do momento...
Bebes a última gota duma rosa
e sorvendo-lhe o néctar imaginário,
pelos espinhos ferido,
sangras-lhes a seda e a macieza das pétalas...
Foge-te na penumbra, um pensamento!
Mordaz fechas a concha e, calado,
um estranho cansaço rói-te as entranhas.
Nos lábios...um esgar dum sorriso
esfumado na angústia dum cigarro...
Nos olhos...um cintilar de morte
e duas pequenas estrelas apavoradas...
Nesse estar de anjo mau buscas o esquecimento
e... já não há talvez...
Abres os esquálidos braços 
e abraçando o abismo
mergulhas no vazio,
indiferente...ausente...ícaro...
voando na plenitude das tuas asas!


Isabel Branco



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