sábado, 2 de abril de 2016

Meu Eu Parasita


Porque me segues?
Porque és a minha sombra,
irmão do meu desassossego,
grito doutra mãe parido?!…
Porque comes do meu prato
e te lambuzas da minha gula,
raiz da minha fome, água da minha sede?!…
Porque escarneces do que digo
e te vestes das minhas ironias,
maresia razão das minhas lágrimas,
sangue do meu sangue concebido?!…
Porque adormeço e pertinaz
te colas poema ao meu sonho,
gémeo parasita do meu corpo ensandecido,
espelho da minha alma ensombrada?!…
Porque acordo e te passeias insistente e mordaz
nos inseguros passos dos meus dias,
meu outro eu não nascido,
ser primeiro do meu ser ferido?!…
Porque me persegues?
Porque teimas seguir-me,
meu inconsequente lado rapaz,
tempo dos meus contratempos renascido,
cinza dos meus escombros reacesa?!...


Isabel Branco