segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Diferença


(Imagem da Net)


Sentes a diferença?
Alguma notória ou mínima diferença em mim?
No que penso ou no que digo,
volvidos os anos, passados os contratempos...
Guardados na memória os bons e os maus momentos?!
Sentes as prioridades
que tive que tomar, os caminhos que tive que seguir?
As escolhas que se impuseram,
as espadas que me obrigaste a esgrimir?
Sou a mesma, escondida entre os disfarces da verdade,
nas vestes duma antiga crença...
Esquece as rugas, vê apenas o rosto...
A vida é injusta e não se compadece...
Sente a alma e respira...
Sou ainda a flor naquele jardim...
Timida, corada, sujeita aos ventos ruins...
Sou eu ainda...ainda que tantos eus por mim
e para mim me tenham florido
e colorido a dura existência.
Serás tu...também o verde ramo,
pujante de frutos, erguido ao sol da manhã?
Serás tu...ainda o menino atrevido
ou os outros tantos tus, que escondeste
nas dobras do teu bigode
ou na concha em que te fechaste
e abandonaste na tua praia deserta?
Serás tu...ainda a esperança,
ou a cinza, ou talvez o fumo escondido
no teu cigarro por fumar...
Qual de nós terá mudado,
qual de nós é ou se tornou realmente diferente?
Qual de nós se esqueceu do azul e do mar
navegando na escuridão dos sem fins?
O odor da paradisiaca maçã
cola-se aos nossos corpos envelhecidos
tranformando-os em troncos esquecidos,
inuteis e derrubados capins...
Porque te demoras?
Porque não provas das apetecíveis,
silvestres e doces amoras
que a floresta tem ainda para nos ofertar?
Porque não vens??? Esquece o tempo,
o silencioso magicar das horas...
Sê tu ...somente,
que eu serei o verdadeiro eu ...
e, juntos, adormeceremos na terra chã...


Isabel Branco


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